A Stefanini é um dos maiores exemplos de uma empresa brasileira que não apenas se
internacionalizou, mas se tornou uma verdadeira multinacional, competindo globalmente no
acirrado setor de tecnologia.
Este estudo analisa como a expansão para mercados estrangeiros
foi a estratégia central que impulsionou seu crescimento exponencial, com uma dinâmica
diferente de empresas de infraestrutura.
1987
Contexto Antes da Internacionalização
Fundada por Marco Stefanini em 1987, em sua própria casa, a Stefanini começou como uma
empresa de treinamento em tecnologia. Rapidamente, ela migrou para o desenvolvimento de
sistemas e outsourcing de TI (alocação de profissionais), surfando a onda da informatização
dos grandes bancos e indústrias no Brasil.
Durante seus primeiros anos, o foco era 100% doméstico. A empresa cresceu solidamente,
construindo uma reputação de confiança e qualidade junto a grandes clientes no mercado
brasileiro. O cenário era de uma economia fechada e instável. O financiamento era puramente
nacional, e a ideia de competir fora do país parecia distante para a maioria das empresas
brasileiras de serviços.
1996
O Primeiro Passo
A empresa abriu sua primeira filial na Argentina. A
estratégia inicial foi a de "seguir o cliente", atendendo empresas brasileiras que
estavam expandindo suas operações na América do Sul. Foi um movimento de baixo
risco que serviu como um laboratório para aprender a operar em outra cultura e
ambiente de negócios.
2001 - 2011
Tornando-se uma Potência:
A entrada nos Estados Unidos, o mercado de tecnologia
mais competitivo do mundo, marcou a verdadeira virada. Esse movimento não era
mais para seguir clientes, mas para competir diretamente por novos negócios e acessar
o epicentro da inovação tecnológica.
A partir daí, a expansão foi acelerada por uma agressiva estratégia de fusões e aquisições
(M&A), comprando dezenas de empresas em diferentes países (como a americana TechTeam
em 2010 e a romena CXI em 2011), o que permitiu ganhar presença local, carteira de clientes
e novas competências tecnológicas rapidamente.
A estratégia de internacionalização transformou a Stefanini de uma prestadora de serviços de
TI brasileira em um provedor global de soluções de negócios digitais. A empresa adotou um
modelo "glocal" (global com entrega local), combinando a escala e a força de uma marca
mundial com a agilidade e o conhecimento de equipes locais em cada país.
O portfólio de serviços se diversificou imensamente. A Stefanini deixou de ser apenas uma
fornecedora de outsourcing para se tornar uma parceira estratégica em transformação
digital, oferecendo soluções em Inteligência Artificial, cibersegurança, marketing digital,
Indústria 4.0 e análise de dados.
Comparativo de resultados:
A comparação dos números antes e depois do processo de internacionalização revela uma
transformação radical na escala e no perfil da empresa.
~1995
Antes da Internacionalização
Receita líquida anual: Dados específicos não são públicos, mas era uma das maiores empresas de TI de capital nacional, com faturamento na casa de dezenas de milhões de reais.
Lucro líquido anual: Não aplicável (dado não público de empresa privada).
Presença global: Exclusivamente no Brasil.
Empregos diretos: Cerca de 400 colaboradores.
Portfólio: Focado em desenvolvimento de sistemas, alocação de profissionais (outsourcing) e treinamento em TI.
% receita em moeda estrangeira: 0%.
% receita em moeda estrangeira: 0%.
% financiamento internacional: 0%.
2023
Depois da Internacionalização
Receita líquida anual: Faturamento de R$ 7,3 bilhões (projeção para 2023).
Lucro líquido anual: Não aplicável (dado não público de empresa privada), mas a empresa mantém alta lucratividade para financiar seu crescimento.
Presença global: Atuação consolidada em 41 países.
Empregos diretos: Mais de 37.000 colaboradores em todo o mundo.
Portfólio: Plataforma completa de transformação digital, incluindo ventures em IA (Woopi), marketing digital (W3haus, Huia), cibersegurança, cloud e consultoria.
% receita em moeda estrangeira: Aproximadamente 58% da receita é gerada fora do Brasil.
% financiamento internacional: Significativo. Embora não seja um dado público, a estratégia de M&A é suportada por linhas de crédito e financiamento de bancos globais, além do forte reinvestimento dos lucros gerados no exterior.
Estudo de Caso:
Impactos concretos da internacionalização:
Diversificação de Receita: A empresa se tornou resiliente às crises econômicas do Brasil, pois mais da metade de seu faturamento vem de moedas fortes (dólar, euro).
Acesso à Inovação e Talentos: Operar em 41 países permite absorver o que há de mais novo em tecnologia e contratar os melhores talentos em cada região.
Capacidade de Atendimento Global: Tornou-se fornecedora estratégica para outras multinacionais, sendo capaz de atendê-las de forma padronizada em qualquer lugar do mundo.
Fortalecimento da Marca: A Stefanini passou a ser percebida como uma marca global, aumentando seu poder de atração de clientes e talentos.
Crescimento por Aquisições: A presença global e a receita em moeda forte viabilizaram uma estratégia de M&A que seria impossível se a empresa estivesse restrita ao Brasil.
O caso da Stefanini comprova uma tese diferente, mas complementar:
o crescimento
exponencial de uma empresa brasileira de serviços ocorre quando ela acessa e conquista
mercados internacionais, diversificando suas fontes de receita.
Ao contrário de um negócio de capital intensivo (como saneamento), onde o acesso ao
crédito internacional é a chave primária para financiar grandes projetos, no caso da Stefanini
(um negócio de conhecimento intensivo), a chave foi a estratégia de expansão de mercado.
A internacionalização foi um movimento para gerar receita em moeda forte, acessar novos
clientes e escalar o negócio.
Nesse modelo, o crédito internacional não é o gatilho do crescimento, mas sim um poderoso
acelerador. Ele funciona como a ferramenta que permite à Stefanini comprar outras
empresas e acelerar sua entrada em novos mercados, sendo financiado pela própria robustez
que a receita global já proporciona.
Portanto, a Stefanini prova que o caminho para o crescimento exponencial passa por
transformar a empresa em uma geradora de receita global, usando o acesso a crédito e capital
internacional como um combustível estratégico para acelerar essa expansão.